O cansaço físico e mental não é mais novidade em meio à grande crise sanitária que estamos vivendo atualmente. Como vocês estão? Indo. Indo, sim, mas não sabemos muito bem para onde. O que vocês já tiraram de lição nesses dias de quarentena? Nós temos algumas reflexões que gostaríamos de compartilhar e deixar registrado para, oxalá, lermos em um futuro próximo e aprender tanto ou mais, apesar de tudo.
Primeiramente, a sensação de insegurança em relação ao que virá, como será o próximo mês, o próximo ano, é uma das grandes contribuidoras para gerar esse mal-estar que nos acomete em período de isolamento. A situação de pandemia, por si só, já gera esse sentimento. Mas tal problema é agravado consideravelmente pela instabilidade do atual governo federal que nega a ciência, mente descaradamente ao seu povo, em prol de interesses particulares, e ainda coloca o Estado Democrático de Direito em grave risco. Quem ainda consegue defender o indefensável? Não é questão de opinião, é questão de humanidade: ou você está a favor ou está contra. Se ficar em cima do muro, já escolheu o seu lado da história.
Em segundo lugar, muitos pais ou cuidadores estão em casa em tempo integral com filhos em idade escolar ou na pré-escola. Para quem não faz ideia do que isso significa, basta pensar em um serzinho pequeno com muita, muita energia, que não quer saber de dormir e que depende de você para praticamente fazer tudo, inclusive para fazer nada. Esses pais adorariam maratonar séries e ler muitos livros indicados como indispensáveis para a quarentena. No entanto, estão divididos entre educar e cuidar dos filhos, cuidar e limpar a casa, cuidar dos animais de estimação, trabalhar e estudar: tudo junto e misturado em um mesmo ambiente. É claro que é impossível fazer tudo, não somos máquinas e tampouco somos preparados e treinados para tanto, então alguns planejamentos feitos para o ano de 2020 necessariamente terão que esperar. Mas, para isso, precisamos contar com a cooperação e compreensão da coletividade que nos cerca de alguma forma. A pergunta é: estamos prontos para nos colocar no lugar do outro e tentar compreender as suas limitações e dificuldades?
Em terceiro lugar, a defesa do isolamento, para além de todos os fundamentos científicos óbvios, não é a escolha da paralisia econômica. Não é obvio, mas muitos setores da economia estão crescendo aceleradamente com o processo e aproveitando para inovar. Delivery, serviços digitais, empresas de telecomunicações e informação, bancos, farmácias, mercados. Não somente, muitos profissionais continuam dando duro em casa, inclusive servidores públicos, que em sua quase totalidade adotaram trabalho remoto (ao contrário do que difamam por aí). Se há setores não essenciais que tiveram de parar e estão economicamente prejudicados, a culpa não é da quarentena e das vidas que devem ser preservadas. A responsabilidade é sim do Estado, que deveria estar provendo compensações financeiras reais, e não apenas simbólicas e irrisórias, às pessoas e empresas prejudicadas. Mas, ao contrário do que ocorre ao redor do mundo, o governo brasileiro lava as mãos. E não com água e sabão, o que seria atualmente bastante recomendado. Usa a crise econômica para pressionar rivais políticos em nível nacional e estadual e aglutinar apoio em torno do negacionismo lunático.
Por fim, voltemos a questões essenciais. O abalo mais profundo do momento ocorre pois estamos lidando com uma situação de vida e morte. Em poucos momentos de nossas vidas, a escolha de sair de casa, de passear na rua, de higienizar as mãos, roupas e todos os itens possíveis, de ter de trabalhar fora de casa, esteve relacionada tão direta e imediatamente com a morte. A música “De Braços Dados“, menciona: “Se quiser viver a vida em todo seu esplendor, basta andar de braços dados com a morte”. É mais ou menos o que Gregório Duvivier nos lembra em um episódio recente do Greg News (o qual, por sinal, recomendamos). A arte, a religião, a literatura, a vida sempre remeteram à morte como forma de refletir o sentido de tudo, da essência à existência.
Pois bem, agora que a morte está tão perto, as escolhas parecem tão severas, mas ao mesmo tempo tão simples e básicas, para quem se importa. Sacrificar o presente, o bem-estar, a renda, o equilíbrio fiscal, em defesa da vida própria e alheia, vale a pena? Bem, só a sombra da morte nos faz realmente valorizar a vida. Refletir sobre isso é o que nos torna verdadeiramente humanos. Ignorar a importância da vida, em prol de qualquer outro interesse, nos leva a morrer de corpo e alma. Se há algum ensinamento a tirar desse momento, é que tudo passa rápido, inclusive nós. O que permanece atemporal é o que carimbamos de humano nesse mundo passageiro.
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