África do Sul é, de fato, um país muito parecido com o Brasil: natureza lindíssima com uma desigualdade social bem visível. Medindo-se pelo índice de Gini, o país fica inclusive em pior posição (quarto país do mundo em termos de desigualdade), o que poderia parecer impossível para quem está acostumado a ver os contrastes de favelas e mansões nas cidades brasileiras.
Por outro lado, quando as questões raciais são consideradas, é interessante notar que aqui é possível ver muitos negros ricos e de classe média, o que é relativamente raro no Brasil, sobretudo em estados como o Rio Grande do Sul. Isso demonstra inclusive que as questões relacionadas a desigualdades raciais estão longe de ser resolvidas no Brasil. Por outro lado, brancos muito pobres aqui são raríssimos. Vi dois até agora. Um parecia ser irlandês (aquele que nos pediu dinheiro no Union Buildings) e o outro tocava blues na rua com violão folk e gaitinha de boca, acompanhado de um cachorro…. tive de desembolsar 5 rands com ele (pouco mais de 1 real). Isso, pois ele tinha um talento nato, regado a baldes de Black Label (cerveja deles).
Embora brancos pobres sejam relativamente raros de encontrar, há grande pressão de alguns grupos contra este fenômeno, que, na atualidade, supostamente ocorre em proporções cada vez maiores. De fato, há alguns bons documentários curtíssimos sobre o tema. Posto dois deles aqui (agradeço ao prof. Martin Fletcher pela dica):
Poor Whites Rich Blacks in SA
http://www.youtube.com/watch?v=e5jJSjpztmA
Poor White South Africans
O primeiro é interessante porque demonstra como negros possuem atualmente muito mais oportunidades para se desenvolver economicamente e obter seu espaço nas classes médias e mais abastadas. O fenômeno é conhecido como Black Economic Empowerment (BEE – Emponderamento Econômico de Negros). Além disso, agora eles têm liberdade para viver onde querem, ou melhor, onde suas contas bancárias permitirem. Mesmo em bairros anteriormente restrito a brancos (os chamados subúrbios). Na época do Apartheid, os negros que ascendiam socialmente tinham de permanecer habitando as townships (subúrbios de negros), o que acabou produzindo uma paisagem desigual inclusive em locais como Soweto, o que pode ser visto ainda nos dias atuais (porções compostas por casas razoavelmente habitáveis e partes marcadas por casebres feitos de estanho, sem água, esgoto ou luz). Do outro lado da moeda, agora brancos têm de competir com negros por emprego e oportunidades econômicas, sem o incentivo de vagas reservadas pelo governo.
O segundo video mostra como alguns brancos veem essa realidade como um afronte, pressionando o governo para estabelecer políticas públicas direcionadas a combater a pobreza branca. É claro que algumas questões imediatamente surgem frente a essa posição. Por que o governo deve oferecer políticas públicas para brancos sul-africanos baseadas em determinantes raciais quando os negros ainda compõem a maioria da população pobre? Não seriam mais justos e menos propensos a revanchismos programas baseados em condições de vida e níveis de renda do que aqueles determinados pela cor da pele? Talvez o problema neste caso é que brancos acabariam sendo tratados como negros, de igual para igual.
Prefiro não entrar na polêmica questão das ações afirmativas no Brasil, mas é interessante como políticas raciais podem ser defendidas em ocasiões diversas e visando garantir diferentes direitos. Em alguns casos serve de ferramenta para compensar injustiças históricas, em outros para proteger minorias habituadas com políticas de favorecimento e que se sentem ameaçadas com o fim dos privilégios. Entretanto, fico pensando qual seria o limite pra tudo isso. Quando as compensações serão suficientes? Quando trataremos os problemas da inclusão com foco no presente, buscando, acima de tudo, garantir condições de vida dignas de qualquer ser humano, independente dos percalços dos que já se foram e de sua herança deixada à flor da pele?
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