O debate social e acadêmico sobre segurança pública no Brasil tem se tornado cada dia mais intenso, seja em âmbito nacional, regional ou local (municipal). Diversas áreas do conhecimento parecem estar preocupadas com o futuro das políticas de segurança pública no país. Basta verificar a importância que se tem dado ao tema nos congressos e seminários acadêmicos das mais diversas áreas, como Sociologia, Direito, Relações internacionais, Estudos de Defesa, Educação, entre outros. Além disso, nunca se ouviu falar tanto em segurança pública na mídia como atualmente. No entanto, há ainda poucos trabalhos científicos que abordem o tema da segurança pública de forma ampla no campo da Comunicação, em especial vinculados à comunicação midiática.
Nilo Batista, jurista e pensador crítico do Direito Penal brasileiro, já afirmava, no início dos anos 2000, que seria necessário compreender o fenômeno midiático nos estudos que envolvem o direito penal e o direito processual penal – estudos, estes, que também abarcam os debates sobre segurança pública. Dizia o autor que é preciso perceber que há uma ultrapassagem da mera função comunicativa da mídia (tal debate já existia há muitos anos na área da comunicação). Hoje, arrisco afirmar que é muito complicado compreender qualquer fenômeno social, político ou jurídico sem conhecer o enfoque que é dado sobre o tema na mídia. A mídia, de um modo geral, é intrínseca à nossa realidade – gostemos ou não.
O que nos falta são explicações sobre como a complexidade midiática se insere nos mais diversos assuntos, sobretudo das áreas do Direito Penal e Processual Penal e da segurança pública. Para isso, penso que as diversas áreas do conhecimento precisam dialogar com mais intensidade. Decidi realizar o meu doutorado na área da Comunicação, com ênfase em comunicação midiática, pois a noção transdisciplinar da Comunicação apresenta uma riqueza de abordagens e compressões que fogem ao alcance de outras áreas, em razão de suas próprias peculiaridades. Mais do que isso, reconhece os objetos de estudos como ricos, complexos e abrangendo diversas percepções da nossa realidade, entre elas os problemas de segurança pública. Além disso, como já disse a professora Vera França (2018, p. 38), “ler a comunicação é diagnosticar o nosso tempo”.
Os tempos atuais necessitam de uma compreensão ampla e plural dos fenômenos midiáticos para a própria compreensão da realidade na qual vivemos – em que se insere o mundo jurídico. Sobre o tema específico da segurança pública, destaco a importância de se compreender como a mídia televisiva, em especial o telejornalismo, incide nessa realidade. A definição sobre o que vira notícia e o que é silenciado e quais são os interesses envolvidos nesse processo é de extrema importância, pois produz consequências, reais ou não, no mundo social (o que vai muito além da ideia de influência). Os avanços em pesquisas científicas que envolvam um debate multidisciplinar para os problemas de segurança pública e dos direitos dos cidadãos dependem dos esforços de, primeiramente, compreender o papel e a importância da mídia como ator social relevante e protagonista do “nosso tempo”.
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